Não são poucos os edifícios históricos ao redor do mundo que necessitam, não sem certa urgência, de um projeto de reforma, restauro ou reaproveitamento. Ao longo das últimas décadas, centenas de estruturas obsoletas foram reinventadas, expandidas ou re-significadas para acolher novos usos e programas, permitindo-as a seguir existindo em um mundo onde tudo aquilo que não é mais útil, desaparece. Museus são as principais entidades que "adotam" este tipo de edifícios, trazendo-os de volta à vida. Alguns edifícios históricos insistem em não se render às agruras do tempo, muitos deles passam a ser re-significados para abrigar novos usos. Eles se transformam, evoluem para assumir novas formas que dão voz a resiliência do legado histórico da humanidade. Projetos de intervenção e adaptação tem demonstrado que até mesmo diferentes estilos de arquitetura, ou diferentes camadas temporais sobrepostas, são muito bem vindas quando se trata de proteger o nosso patrimônio arquitetônico.
A seguir, listamos dez projetos que ilustram este tipo de intervenção arquitetônica, onde passado, presente e futuro se sobrepõe para recriar e dar novo significado a estruturas históricas que um dia, estiveram ameaçadas de desaparecimento.
Museu do Louvre
O Louvre é um ícone, talvez o mais famoso museu do mundo. Sem sombra de dúvidas, é um dos mais belos exemplos de sobreposição temporal na arquitetura. O grande palácio barroco conserva características góticas de quando ainda era um castelo, além de intervenções renascentista e neoclássicas. No entanto, é no pátio principal do complexo que fica o elemento mais recente e simbólico do maior museu de arte da cidade de Paris e um dos maiores do mundo: a pirâmide de vidro concebida por I.M.Pei em 1989, uma nave espacial que foi detonada por boa parte dos críticos de arquitetura nos anos noventa para ser aclamada e aplaudida anos depois. A estrutura de vidro que parece brotar no chão da praça, procura invocar os espíritos da arquitetura monumental de outros tempos, entretanto, ela marca uma clara ruptura com os estilos precedentes e através deste contraste, re-significa a arquitetura do passado no presente.
British Museum
Outro belo exemplo da resiliência da arquitetura do passado é o edifício do British Museum de Londres. O centenário museu neoclássico foi originalmente projetado e construído por Sir Robert Smirke em 1800. Mais recentemente, depois de passar por muitos anos esquecido, o Museu foi completamente transformado e remodelado, abrigando agora o seu mais impressionante elemento: o Great Court, projetado nos anos 2000 por nada mais nada menos que Sir. Norman Foster, um projeto que unifica as alas do museu criando um novo espaço de entrada central coroado por uma cobertura de vidro nem um pouco convencional.
Museu Judaico
Diferentemente do Museu do Louvre e do British Museum, a intervenção no Museu Judaico de Berlim, construída 1988 e talvez o mais famoso dos projetos assinados por Daniel Libeskind, consiste em um novo edifício forjado para conectar duas estruturas pré-existentes que compartilhavam apenas o subsolo. Embora o edifício histórico tenha sido mantido inalterado, a intervenção deconstrutivista de Libeskind destoa do contexto e ofusca qualquer outra arquitetura em um amplo raio de ação, ela representa uma nova interpretação simbólica da história do judaísmo após o fim da segunda guerra mundial.
Museum de Fundatie
Originalmente construído em estilo neo-clássico de meados do século XIX, este palácio concebido como um museu na Holanda foi completamente remodelado durante os anos 2012 e 2013 segundo projeto do escritório holandês Bierman Henket Architecten. O museu se tornou um sucesso de público, e demandava uma considerável ampliação. Os arquitetos da Henket, optaram por construir uma estrutura autônoma que destoasse completamente da arquitetura neo-clássica do palácio. O resultado é um edifício anexo em forma de ovo que parece pousar sobre a cobertura do edifício do museu, transformando a sua arquitetura de forma radical e inesperada.
Städel Museum
Originalmente construído no século XIX em estilo Grunderzeit, o Städel Museum foi remodelado e expandido em 2012 pelo escritório de arquitetura alemão Schneider + Schumacher. Contrastando com a estratégia do projeto precedente, os arquitetos propuseram uma intervenção praticamente invisível, que se desenvolve por baixo da terra e é somente compreensível pela geografia que as zenitais criam ao brotar na superfície verde do pátio. Este sutil projeto de intervenção pode ser compreendido mais como uma obra de land art que um projeto de arquitetura contemporânea, ainda que seja um belo exemplo de intervenção cuidadosa em um edifício histórico.
Royal Ontario Museum
A intervenção no Royal Ontario Museum é outra obra de Daniel Libeskind a constar nesta lista - embora não tão aclamada como o Museu Judaico. Praticamente vinte anos depois do projeto em Berlim, é possível ver desdobramentos de sua mais famosa obra no projeto para o Royal Museum no Canadá, o qual explora as mesmas formas cristalinas e afiadas para extrudar parte do programa do museu para fora do histórico edifício do Museu Real de Ontário. Construída originalmente em estilo neo-românico, a estrutura concebida por Frank Darling e John A. Pearson no século XIX foi expandida no ano de 2007 para incluir o novo edifício disforme criado por Libeskind, um espaço experimental que procura investigar conceitos de acessibilidade e os limites entre a esfera pública e privada.
MOMA PS1
Em 1997, Frederick Fisher and Partners foram os responsáveis por transformar este antigo edifício de uma escola construída no século XIX em um movimentado e vibrante centro de arte contemporânea. Mantendo todas as características fundamentais do edifício histórico, os arquitetos expandiram os seus espaços para fora, criando uma fachada que expressa claramente a nova função do complexo. Embora evidente, o projeto de expansão e remodelação é bastante singelo, evitando chamar mais atenção que o valioso conteúdo que abriga.
Moritzburg Museum
Um dos mais antigos edifícios a constar nesta lista, o castelo de Moritzburg e hoje Museu de Moritzbug, na Alemanha, foi construído no século XV. Após ser parcialmente destruído durante a Guerra dos Trinta Anos, o castelo permaneceu em ruínas até o ano de 2008. Mais de um século depois, o castelo foi completamente reformado e remodelado para abrigar um novo museu. No projeto de expansão, Nieto Sobejano evita interferir muito nas plantas originais do castelo, adicionando um volume extra acima da cobertura, como um novo telhado moderno que contém o programa do novo museu. Suas formas dinâmicas e aberturas extrudadas parecem fluir a partir das paredes de pedra do antigo castelo, provocando uma combinação interessante entre dois estilos tão deslocados no tempo e tão próximos no espaço.
Bundeswehr Military History Museum
Daniel Libeskind parece ser sinônimo de projeto de reforma de edifícios históricos. O Museu Militar de Dresden é mais um a ocupar e ressignificar uma arquitetura do passado. Atualmente, o museu se revela em forma de uma enorme flecha de prata que se projeta a partir da fachada deste histórico edifício alemão do século XIX. A intervenção proposta por Libeskind opera pelo contraste mais uma vez, mas aqui o contraste é muito mais do que apenas formal, a abertura contrapõe a rigidez do projeto original enquanto que a democracia, se opõe ao autoritarismo.
Tate Modern
A Tate Modern é um dos mais importantes museus de arte do Reino Unido, e talvez aquele mais impressionante em matéria de arquitetura. Ocupando a antiga estação de energia de Bankside, construída no final do século XIX, a Tate Modern de Londres preserva grande parte do complexo original, incluindo algumas adições que apenas potencializam a atmosfera deste espaço mágico. Um destes adendos é o projeto de expansão concebido pela dupla Herzog & De Meuron. Boa parte deste edifício anexo foi construída ainda nos anos 90 e posteriormente concluída entre 2012-2016. As intervenções mais significativas do conjunto incluem uma extensão de vidro de dois pavimentos que ocupa a antiga cobertura do edifício além da construção de um novo edifício chamado de "Switch House". Grande parte dos interiores originais foram mantidos e reaproveitados, como a “Sala das Turbinas”, transformada para abrigar um dos maiores espaços expositivos do mundo, assim como o “The Tanks”, utilizado para a realização de performances e instalações menores.
Publicado originalmente em 10 de julho de 2019, atualizado em 11 de setembro de 2020.